28 março 2011

Sorriso Apagado

Ele olhava, ao som de Linger, as fotos antigas. As lembranças pipocavam em sua cabeça como fogos de artifício no ano novo. Lembrou-se de tudo o que passaram juntos e, por mais que não parecesse, era tanto que demorou horas e horas perdido em seus pensamentos.

Um rosto se escondeu atrás das frestas do portão. “Você tá doido?”, ela perguntou com um rosto ruborizado. Ele sorriu sem responder enquanto ela abria o portão.

Ele a fez uma surpresa que não esperava que desse certo.

“Eu tou toda desarrumada e você aparece assim, que vontade de te mat...”, ele a interrompeu com um beijo, a espera fora longa demais para, simplesmente, adiar mais ainda aquele momento. Surpreendida, ela apenas o abraçou e beijou-lhe de volta.

Na cabeça dele, todas as trilhas sonoras de comédias românticas tocavam. Não era o seu primeiro beijo, mas, dessa vez, ele sabia que era diferente, que tinha muito mais ali do que duas pessoas demonstrando um pouco de afeto.

Sentaram-se no banco que estava perto dos dois. Ela tagarelava com sobre como ele era um canalha, aparecendo daquele jeito sem avisar nada, achando que a vida podia ser tão imprevisível assim. Ele sabia que a vida era imprevisível. Preferiu não discutir, ou melhor, não conseguia discutir. Olhava atordoado para face, ainda um pouco avermelhada, da menina e o que mais lhe encantara foi o sorriso inocente que ela soltava de vez em quando. Ela não entendia o porquê daquele olhar bobo.

“Para, eu fico envergonhada quando você me olha desse jeito.”, ela reclamava com ele enquanto andavam a beira da praia. As ondas beijavam-lhes os pés, discutiam qualquer bobagem sem muita importância, apenas pelo prazer de ter um embate saudável acerca de algum assunto ilógico para os dois.

Reencontraram a família do rapaz. A irmãzinha brincava com um coco na piscininha de ar. O pai logo foi convocado a participar da discussão e, ao final dela, todas estavam tomando café da manhã perto dali. Eram, assim, todas manhãs de domingo, ou quase todas. Passavam o dia juntos e, então, a noite chegava. Noite que separava às vezes, que unia tantas outras. Saíram juntos diversas noites e riram juntos nelas.

Brigaram. Ele lhe falou que não curtia o desinteresse dela pelas suas próprias atividades, ela disse que ele não a conhecia assim para falar desse jeito dela. Ele foi para casa e ela ficou lá, pensativa, procurando as razões dele ter falado aquilo. Reconciliaram-se. Ela entendeu o que ele falou e ele pôde ficar mais tranquilo sobre a integridade do relacionamento deles.

E, então, depois de meses juntos, se separaram. A força das tarefas dele não permitia que eles ficassem juntos, mas prometeram aguentar até se verem novamente, seguiriam conversando como tinha sido no começo e estariam sempre lá para ajudar um ao outro.

Ele não suportou, a saudade corroia-lhe as entranhas. Doía muito para suportar e ele procurou uma solução. E, então, tudo que lhe sobrou foram as fotos no computador, a trilha sonora das comédias românticas e um sorriso apagado pelo seu rosto inchado e cheio de lágrimas.

Para alguém que sempre será muito especial.

Escrito por: Felipe T. de Avelar (28/03/2011)

12 março 2011

Terminal da saudade

Sentado no meu canto solitário, assisto a paisagem da estação. A chuva que derruba o mundo lá fora, segue com a mesma força que as saudades inundam a rodoviária. Vejo um pai de família se despedir de seus três filhos e esposa. As lágrimas escorrem-lhes os olhos e dói em todos que vêem aquela cena.
Do outro lado, silenciosamente, a avó chora, enquanto seu neto sobe a plataforma. Um choro contido, envergonhado, um choro que busca consolo, um choro que tanto conheço. Então, levanto-me de meu assento, a minha frente uma senhora chora, assim como a mulher que assistia seu neto partir. Abraço-lhe. Tudo que resta são gestos, já que as palavras não saem mais e, como uma lágrima que foge dos olhos, vou embora dali em direção ao meu destino, deixando para trás, aquele terminal de saudades.

Escrito por: Felipe T. de Avelar(12/03/11)