Enfado Semanal
Um feixe de luz, que escapava por entre as cortinas, atingia-lhe o rosto. Acordou e levantou-se. Odiava as segundas-feiras. Violentamente, atirou-se sob o chuveiro com a barba por fazer, alguns copos e livros sobre a mesa restavam da boêmia decorrentes do fim-de-semana.
As pontas de cigarro no cinzeiro, assim como o cheiro que impregnava o apartamento, lembravam-lhe o quão distante estava da diversão naquele momento. Queria apenas a alegria do sábado à noite, o sono tranquilo da manhã de domingo. Faltava-lhe tempo para ler, para escrever. Não queria mais comer ou beber, todo o tempo que tinha era para inebriar-se com arte. Queria embriagar-se com as obras de Dante e de Brahms ao anoitecer, deliciar-se com Chaplin e Chopin ao acordar.
Mas tudo que lhe restava era o grito sufocado por uma sociedade indiferente aos seus apelos e, forçadamente, ele se rendia. Seguia inerte às atividades semanais, ansiando o período de puro êxtase, onde os espasmos de prazer eram inevitáveis e poderia, então, dormir com um sorriso de satisfação.