28 novembro 2010

Enfado Semanal

Um feixe de luz, que escapava por entre as cortinas, atingia-lhe o rosto. Acordou e levantou-se. Odiava as segundas-feiras. Violentamente, atirou-se sob o chuveiro com a barba por fazer, alguns copos e livros sobre a mesa restavam da boêmia decorrentes do fim-de-semana.

As pontas de cigarro no cinzeiro, assim como o cheiro que impregnava o apartamento, lembravam-lhe o quão distante estava da diversão naquele momento. Queria apenas a alegria do sábado à noite, o sono tranquilo da manhã de domingo. Faltava-lhe tempo para ler, para escrever. Não queria mais comer ou beber, todo o tempo que tinha era para inebriar-se com arte. Queria embriagar-se com as obras de Dante e de Brahms ao anoitecer, deliciar-se com Chaplin e Chopin ao acordar.

Mas tudo que lhe restava era o grito sufocado por uma sociedade indiferente aos seus apelos e, forçadamente, ele se rendia. Seguia inerte às atividades semanais, ansiando o período de puro êxtase, onde os espasmos de prazer eram inevitáveis e poderia, então, dormir com um sorriso de satisfação.

Escrito por: Felipe T. de Avelar(28/11/2010)

09 novembro 2010

Recipente

Eu não sou nada além de um casco vazio. Um vaso sem preenchimento de sentimentos... Um jarro sem alma. Tento seguir em frente com a minha futilidade mundana, mas o tempo mostra-me o quão insignificante sou perante ele.
São horas da madrugada que passam voando e meu corpo, que antes não doía, agora urra pelo colchão confortável e geme de prazer ao relaxar na horizontal. Sinto os pêlos de barba crescer. Não gosto, porém, mais incômodo é dar um fim diário a esse crescimento contínuo. Entretanto, quando não o faço, olho-me no espelho e um rosto acabado toma forma no reflexo.
Nada além do meu "eu" vazio e pequeno, escalando a muralha, infinitamente maior, da vida. Tento seguir subindo, mesmo com as quedas desse abismo, muitas levando-me a situações críticas, mas sempre tenho um para-quedas, uma válvula de escape que sempre estoura por excesso de pressão.
Todavia eu continuo a seguir, em qualquer direção e, se não encontro meu rumo, deixo ele me encontrar, embriagado de insegurança, em alguma sarjeta, mendigando compaixão.

Escrito por: Felipe T. de Avelar (09/11/2010)

06 novembro 2010

Saudosismo

Olho para trás, em busca de um canto seguro, mas tudo que vejo são lembranças. Lembranças boas, calorosas, que invadem minha mente e dão-me a sensação de conforto. Falso conforto. Logo estou atirado ao chão, estilhaçado, esquecido pelas minhas próprias memórias, esquecido pelo meu amor de infância, mas, felizmente, não esquecido pelos meus amigos.

O contato perdido não foi o suficiente para rasgar os fortes laços criados pelo tempo de escola e, nesse ponto, que as lembranças são mais cretinas, porque, apesar de ainda sermos próximos, envelhecemos, toda aquela chama juvenil apagou-se com o extintor da idade e agora somos, nada mais do que, simples seres humanos, com contas a pagar, obrigações inadiáveis a cumprir e saudades insaciáveis do nosso passado glorioso, tudo por causa do nosso saudosismo crescente a cada dia.

É, saudade é uma merda.


Escrito por: Felipe T. de Avelar(06/09/2010)