27 abril 2008

Fotografia

Abriu os olhos vagarosamente. O lugar da cama ao seu lado estava vazio. Olhou, então, o porta-retrato sobre o criado-mudo. O sorriso bobo, ao lado de quem ocupava o outro pedaço da cama, dominava o seu rosto juvenil naquela fotografia. As lembranças da noite que se conheceram pintavam, como um quadro, em sua mente.
O amigo passara uma semana insistindo sua presença naquela, que seria a maior festa do semestre. A faculdade estava exigindo muito de seu tempo, precisava daquilo pra relaxar e, apesar da tentativa incoerente de não fazê-lo, acabou atendendo as súplicas do amigo, que necessitava de uma companhia para a baladinha.
Os olhos dela eram sinceros e pareciam penetrar pelo vidro do porta-retrato, atravessando seus olhos e vendo o que seu coração sentia. Até hoje ele perguntava se ela não era capaz de notar o que as pessoas sentiam apenas de encarar suas pupilas. Mesmo através do papel, ele ainda se sentia espiado por aqueles olhos misteriosos.
Chegou ao bar, onde o pessoal começava a se juntar, encontrou com uns colegas de sala, uma ou duas meninas que já tivera um caso, alguns professores, nada fora do normal. Procurou um lugar na mesa de conhecidos, mantiveram as conversas sociais de sempre, exceto os comentários sobre as partes cafonas dos professores, já que parte deles estava lá.
A luz falha do papel, criava uma sombra em seus rostos, deixando o rosto dela ainda mais misterioso no retrato, começara a se perguntar onde ela se metera, enquanto ainda vinham recordações de quando se viram pela primeira vez.
Uma bela moça morena e de corpo esbelto entrara no recinto. Era um pouco mais baixa que ele e isso o atraia ainda mais. O rostinho angelical que parecia esconder um demônio selvagem dentro do seu corpo, era assim que ele conseguia explicar o olhar sereno com o sorriso seguido do sorriso travesso que ela soltara. Encantado, o jovem rapaz foi conversar com a linda mulher, que naquele momento se tornara uma ótima razão para permanecer naquele bar. O assunto entre os dois começou a fluir timidamente. Passado vários minutos, já falavam de relações desastrosas no passado. De repente um amigo falou: “olha o passarinho.” e sem muito escolha, os dois sorriram para o objeto que registraria aquele momento para a eternidade.
Reparou no sorriso bobo e surpreso que tivera naquele momento. O rapaz, que não era mais rapaz, mas um homem formado, que já possuía mestrado e começara a tese de doutorado, olhava surpreso como nunca reparara no mostrar de dentes abobalhado que ele oferecera para a máquina fotográfica naquela noite.
Então, uma música começou a tocar, aquela música que se dança coladinho, que só quem já o fez pode explicar a sensação agradável e confortadora que é vivenciar esse momento. Dançaram algumas melodias, não sabiam ao certo quantas e, no final de uma delas, eles trocaram um olhar envergonhado, um abraço mais forte e...
Ela finalmente aparecera, depois de todas aquelas lembranças que saltavam pela mente do homem, ele olhou cada pequeno membro dela e, com a alma reconfortada, sentia o fogo da paixão que nunca se alterara desde aquela noite fatídica. Abraçou, então, fortemente a sua mulher e...
Beijou-a, um momento único, como cada beijo que eles trocaram, como cada eu te amo que disseram, um momento que se fincou na mente, como cada troca de carícia que já tinham feito desde aquela foto e que aconteceria até encontrarem seu leito de morte, onde teriam sua última fotografia, abraçados e juntos para eternidade.

Escrito por: Felipe T. de Avelar (27/04/2008)

03 abril 2008

Desejos De Um Nacionalista

Venho, através destas linhas tortas, desabafar os pesares que me atormentam nesses últimos dias, que pedem pra saltar de mim, principalmente depois de ver o novo show no circo do planalto central. Talvez para alguns, se não para quase todos, sejam dores incompreensíveis, irracionais, mas, mesmo que inutilmente, exponho meu coração verde-amarelo para todos que quiserem dilacerá-lo.
A situação é ruim lá pelo meio do país, onde se discutem os gastos pessoais do presidente e companhia, no visa electron corporativo do país, e essa situação levou-me a levantar uma questão (talvez de grande importância): “No que influenciará saber se ele comprou uma tapioca no tal cartão ou não?”. Se ele comprou, posso indignar-me, talvez, até, destituir o presidente de suas funções, para aparecer outro que compre um “dogão” na esquina, continuando assim um ciclo bastante incomum no Brasil, o ciclo da corrupção, tão desconhecido por esses mágicos do planalto central, que somem com tantas grandes quantias de dinheiro público.
Eu não quero um presidente que saiba mais sobre o que o “pacificador” venezuelano anda fazendo do que os assuntos do próprio país que ele deveria governar, deveria, no mínimo, saber os eventos que ocorrem no “quintal” dele. Não quero um país que seja governado por tantos outros governos paralelos, como a dengue, o tráfico e “bolsas famílias”. Também não quero uma oposição que tente provar que o governo é o lobo-mau da história, o grande vilão, para assim poder eleger um outro lobinho, que seja, talvez, até pior que o antigo lobo.
Eu quero líderes que amem esse país, que derramem cada gota de suor que existir em seus corpos para melhorar a nação e, quando faltarem gotas de suor, derramem as gotas do próprio sangue. Que chorem por cada vida perdida, que não olhem um bonequinho de seis anos sendo arrastado por vários quilômetros e digam apenas: “É chocante, não podemos fazer nada nesse estado”.
Eu quero que a alegria do carnaval dure o ano todo, que não seja roubada pela fome e pobreza do nosso povo, assim como quero que seja eterno o nacionalismo, o qual torce pelo “Hexa” de 2010. Quero uma tevê que eduque, não uma televisão que iluda o espectador das 6 às 10, com um intervalo curto para apresentação de fatos destorcidos.
Talvez seja uma utopia, mas queria que todos amassem esse país, que eu cresci e que eu amo com todos os meus gestos, pedaços e pensamentos. Que tenham a paixão de olhar cada árvore de cada floresta, seja a amazônica ou a das araucárias. Que saibam se encantar com a bela vista do Cristo Redentor, com o frio de Gramado e Canela no inverno, com as garotas de Ipanema, com as belas praias desse enorme Brasil, com as lindas cores da nossa bandeira. Quero um país que entenda o sentido de “ordem e progresso” e não que aplique “desordem e regresso”. Quero que o nacionalismo tome conta do coração, da cabeça, do corpo de cada criança, cada jovem, cada pessoa que viva nesse enorme território, que valorizem as belezas naturais ou artificiais que só a nossa pátria possuí. Quero companheiros ufanistas, quero mais corações verde-amarelos lutando pela nossa pátria. Eu quero que vocês sejam esses corações.

Felipe T. de Avelar (03/04/2008)